A poesia engajada contra o obscurantismo do regime autoritário
Veja artigo em http://reporteralagoas.com.br/novo/?p=75330
A praça *
Gonzaga
Leão
Não te chamo a passeio pela
praça
porque a praça morreu e está cercada
de muros. Há estranhos operários
trabalhando:
em lugar de pá e enxada
usam feios fuzis e sabres
sujos.
E as árvores da praça assassinada
já não podem dar flor nem dar mais fruto
nem
mesmo a sombra amiga e desejada.
Por isso não te chamo para a
praça
com este céu de manhã quase noturno
e
operários estranhos e fardados.
Peço-te apenas que me dês a mão
e juntos amassemos nosso pão que se é feito de amor não sai amargo.
* Composto pelo poeta, em julho de 1964, quando da
visita aos amigos presos, na antiga penitenciária da Praça da Independência.
Preparação da manhã
Gonzaga
Leão
É duro dizer, criança
filho do triste operário
do sofrido camponês
que em vez dos belos brinquedos
que te fariam feliz,
dar-te-ei canhões fuzis
e a noite feita de medo;
contar-te-ei em segredo
(não histórias pra dormir)
que neste imenso país
somente o rico é feliz
só o rico tem porvir;
e contar-te-ei também
que o pão que falta em teu prato
sobra no prato de alguém;
que tua roupa nenhuma
não mais serve a quem a tem.
filho do triste operário
do sofrido camponês
que em vez dos belos brinquedos
que te fariam feliz,
dar-te-ei canhões fuzis
e a noite feita de medo;
contar-te-ei em segredo
(não histórias pra dormir)
que neste imenso país
somente o rico é feliz
só o rico tem porvir;
e contar-te-ei também
que o pão que falta em teu prato
sobra no prato de alguém;
que tua roupa nenhuma
não mais serve a quem a tem.
Mas direi no entanto a ti
(rudemente enquanto falo)
que nessa estrada de agora
não muito distante a aurora
já avia seus cavalos
com seu jaezes de fogo
e ardentes ferros nos cascos
com sua fonte de sol
a celebrar-se nos olhos,
que deixarão claridades
de manhãs onde passarem:
- e não haverá mais sede
boca não dessedentada
rios que não tenham ponte
de paz e fraternidade.
E no chão de todo o mundo
transformado em bem comum
rebentarão as sementes
e o pão será permanente
na mesa de qualquer um.
Fevereiro de 1963
(rudemente enquanto falo)
que nessa estrada de agora
não muito distante a aurora
já avia seus cavalos
com seu jaezes de fogo
e ardentes ferros nos cascos
com sua fonte de sol
a celebrar-se nos olhos,
que deixarão claridades
de manhãs onde passarem:
- e não haverá mais sede
boca não dessedentada
rios que não tenham ponte
de paz e fraternidade.
E no chão de todo o mundo
transformado em bem comum
rebentarão as sementes
e o pão será permanente
na mesa de qualquer um.
Fevereiro de 1963
Tempos sombrios, aqueles. Relembremos, para que não se repitam!
ResponderExcluirUm abraço
Cirandeira,
ExcluirAqueles tempos obscuros, nunca mais!
Seja sempre bem-vinda!
Abraços
Bom rever as palavras doloridas de uma realidade que se abateu sobre o país e alertar as novas gerações que tendem a minimizar o que não viveram.
ResponderExcluirUm abraço
Guaraciaba,
ExcluirNada melhor e mais adequado do que a poesia também
para nos chamar a atenção para aqueles tempos
que não queremos reviver jamais.
Abraços