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5 de setembro de 2014

Poemas de Cicero Melo

V TAVERNA ALÉM

Cicero Melo

Como o tempo corre e cansa
no relógio do meu peito:
Hoje eu sou uma criança,
ontem era um homem feito.

Como o tempo recupera
os outros tempos do sonho,
o longo quintal da espera
do menino que reponho.

Sou menino recomposto
de tempo, sonho e enfado.
Nas tendas de um rei deposto
todo o presente é passado



A TERCEIRA PELE

Cicero Melo

Procuro a carne da palavra adusta,
Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.



A MOTIVAÇÃO ROSA

Cicero Melo

O que motiva essa rosa
além da acesa ternura,
senão o rubro que dosa
minha paixão e loucura?

O que teceu essa dor
que rosa essa rosa ativa,
senão os ventos do amor
em minha face cativa?

Casta rosa, que neblina
a rama de amar me tosa!
Vem cintilante assassina!
Rosa rosa rosa rosa!



PSIQUÊ

Cicero Melo

Asas desnudas, sempre ao som do outono, 
lasciva à sombra, tecelã sem véu;
silvestre acende de fragrância, um céu
aos deuses ébrios, frenesi de sono.
Perfumes, poros, cortesãos sem dono,
O púbis plúvio, reiterado réu.
Eros inflama junto ao peito ao léu
os caminhos sedosos do abandono.
O botão da manhã enfarta a flor.
A alegria projeta a sombra rosa
nos doces sítios em que repousa amor.
E despertas, paisagem deleitosa,
os orgasmos finais de luz e ardor
da borboleta ao vento, incestuosa.



O GOLEM

Cicero Melo

Guardo o poema da Criação
E as faces dos deuses
Em minha memória de argila
E nudez primogênita.

O primeiro vento deu-me o espaço,
com corpos celestiais,
e uma casa.

O segundo, o tempo e o nada.