Calvário nas ruas de Maceió
Iremar Marinho
Para que matar o Cristo,
todos os anos, nas ruas
de Maceió, como em Gólgota?
Não bastou a imolação?
Cada esquina, uma estação.
Velhas crentes, moços gaios
acompanham ao Calvário
o Cristo sem Cireneu.
A Rua do Sol é nova
Via Sacra: a turba quer
o Cristo crucificar,
sem dó nem apelação,
no Largo do Livramento
(diante do Bar do Chopp).
Mas o Senhor jaz (é morto!)
entre rubros paramentos.
Mourão
Iremar Marinho
Cavalgo potros etéreos,
vaquejando bois postiços,
na fazenda ilusória.
Abro porteiras, mas há
sempre mais terras cercadas
no grande cercado-mundo.
Pastam bois de Vitalino,
passam bois, passa boiada,
passa o cavalo do tempo.
Bate o baque da porteira,
passa o vaqueiro das horas,
passa o destino dos homens.
Minha cidade bovina,
na vaquejada ilusória,
rumina o pasto do gado.
O berro do gado-homem,
no curral do matadouro,
é meu destino cercado.