Desmantelo azul
Carlos Pena Filho
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas
depois vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas
E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço
E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul: azul.
A encantação pelo riso
Velimir Khléblinikov
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
1910
(Tradução: Haroldo de Campos)
Subversiva
Ferreira Gullar
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito lindo o texto "desmantelo azul". É uma poesia pintada pelo poeta, vista e sentida pelo leitor.
ResponderExcluirEscolhestes bem os três textos. É sempre bom vim aqui conhcer um novo texto. Ou um autor q antes ignorava.
abraços
Você é sempre bem-vinda!
ResponderExcluirAbraços
Olá...
ResponderExcluirAdorei teu blog. Seja bem vindo ao meu.
Abraços
Boa Tarde Iremar!
ResponderExcluirÉ simplesmente delícioso navegar em seu espaço e degustar tantas coisas boas.
Obrigado por estar me seguindo, estou seguindo você também.
Ferreira Gullar tinha toda razão ao se referir a poesia e sua afã ao chegar; assim como o amor que chega aos galopes e sem pedir licença e somente aos poucos vai se consolidando e se tornando maduro e sem tanta exaltação.
Lindo poema amei!
Axé
http://diario-porto-solidao.blogspot.com
Michele,
ResponderExcluirSeu blog é uma riqueza cultural,
pela variedade de pessoas e temas focalizados.
Parabéns! Sou grato por sua visita.
Abraços
Amiga,
ResponderExcluirÉ muito interessante a analogia que você faz com a chegada do amor e da poesia.
Vamos nos seguir!