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14 de novembro de 2009

Meus poemas

O mundo impossível dos meninos

Iremar Marinho

“Ó terra em que nasci e morri,
o seu Mundaú, suas lagoas,
minha mocidade.”

(Jorge de Lima)

Poeta Jorge de Lima,
universal e tão próximo.
Na invenção da infância,
criamos o mesmo mundo
impossível dos meninos.

Nós percorremos a mesma
Cidade da Madalena
(ex-Vila da Imperatriz),
o nosso burgo natal):

Rua da Apertada Hora,
Rua do Jatobazinho;
a Rua da Cachoeira,
a Rua do Virador,

Rua da Matança Velha,
Rua do Boi, do Carvão,
Rego da Guida, Pedreiras,
Rua do Consome Homem.

Sou da Rua do Cangote.
És do Largo da Matriz
(da esquina do Comércio,
olhando a Rua de Cima).

Nós passeamos a esmo
pelos “caminhos que ainda
têm orvalhos e sonâmbulos
bacuraus”, “ninhos suspensos”.

Vagueamos no Cruzeiro
do Século, no Jatobá,
no Sueca, no Bolão,
Tobiba, Terra-Cavada,

lá no Fundo do Surrão,
Brejo do Capim, Muquém,
no Cafuxi, Amolar,
no Caboje, na Jurema,

Várzea Grande, Mão Direita,
Cana Brava, Sapucaia,
no Caípe, no Mocambo,
no Ximenes, no Cajá,

no Riachão, nos Esconsos,
Serra Grande das Canoas,
Serras do Frio, da Laje,
da Barriga (do Quilombo).

Tomamos banho no mesmo
Mundaú, das “lavadeiras
seminuas “, curiosos
de ver aquelas “mocinhas
nuinhas, de pé... com frio...”

Na mesma feira de sábado
(eu me perdi do meu pai),
fostes guia da menina
cega que pedia esmolas.

Na estrada Great Western
(“balduínas sonolentas”),
os meninos de “alma lírica”
aprenderam ver paisagem.

Nossos mundos impossíveis
unem-se pelas lembranças
indeléveis como nódoas
nas almas destes meninos.

Eu te peço por empréstimo
tuas raízes (são nossas)
para deixá-las plantadas
para sempre na União.

Empresta-me teu sublime
Acendedor de Lampiões.
Empresta-me Santa Dica.
Empresta-me Pai João.

Empresta-me Quichimbi.
Empresta-me Janaína.
Tua Mulher Proletária.
Empresta-me Negra Fulô.

Só não tomo por empréstimo
tua grandeza de poeta
universal. Minha dívida
contigo é muito grande.

Dever-te-ei para sempre.

12 comentários:

  1. Ficou bonito Iremar. Ruas do tempo. Raizes e memórias do que somos. É tão bom 'avivar' os sentires caminhando nas ruas das lembranças daqueles tempos dos quais não podemos esquecer.
    E estas ruas tem rostos, tem cheiros e cores.
    Muito bom.

    Abraços, amigo.
    bom final de semana.

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  2. Iremar, agradeço pela visita ao meu Blog, e aqui me encanto com tua poesia.
    Que sutileza, gentil memória compartilhada de histórias-lugares que também foram "vida" para ti.
    E que graciosidade este final:
    "Só não tomo por empréstimo
    tua grandeza de poeta
    universal. Minha dívida
    contigo é muito grande.Dever-te-ei para sempre."
    Sinto que os poetas conseguem guardar na retina as lembranças tão vivas dos lugares que as águas de um mesmo rio. Cada um as retem a seu modo, mas na poesia se igualam em beleza.
    Gostei muito de aqui estar.
    Grande abraço!

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  3. Gol de Placa, Iremar!
    Belíssimo poema!!!
    Venho lhe pedir encarecidamente permissão para publicá-lo no meu blog.

    Grande Abraço!

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  4. Caro Poeta Carlos Maia,
    Que satisfação por sua visita, sua generosidade
    e seu pedido, que não precisa ser
    feito. Claro que vou me sentir
    premiado por ter meu poema publicado
    no seu blog.
    Grande abraço pra você!

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  5. Bem vindo ao meu espaço caro Poeta!
    Seus poemas são lindos...lindos...Parabéns!

    Beijos na alma!

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  6. Poeta Maria,
    Ave! Cheia de Graça e Poesias!
    Agradeço por sua visita e por apreciar
    os poemas.
    Parabéns por sua belíssima página!

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  7. Querida Mai,
    Muito bem apreeciados por você
    estes temas das ruas do tempo,
    com rostos, cores e cheiros.
    Agrdeço por sua generosidade.
    Abraços

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  8. Querida Maria Izabel,
    Eu que me encanto com seus comentários
    sobre a poesia em que guardamos
    nas retinas as memórias do tempo.
    Agradeço por sua visita e sua gentileza.
    Iremar

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  9. Olá amigo,
    Vim retribuir a sua visita e encontro aqui um grande poeta! Sua sensibilidade está refletida nos seus versos.
    Desejo-te cada vez mais inspiracao!
    Um grande abraco,
    Márcia

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  10. Olá, Márcia,
    Sou grato por sua apreciação,
    reveladora de sua generosidade e gentileza.
    Vamos nos seguir sempre.
    Abraços,

    Iremar

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  11. Sentimo-nos sempre menos órfãos de nós mesmos quando temos na árvore genealógica da nossa terra nomes-frutos de homens-poesia.

    Não deixa de ser literatura fra[terna].

    Como se nossas veias dilatassem rios que transcorrem os mesmos leitos onde outros foram beber.
    E degustamos a mesma língua, sotaques, torrão, olhares e afins.

    Belíssima homenagem ao poeta, Iremar.

    Beijos.

    Katyuscia.

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  12. Katyuscia,

    Com que propriedade você interpreta
    o poema em homenagem ao nosso poeta universal
    Jorge de Lima!
    Veias dilatando rios... Degustando a mesma língua, sotaques, torrão, olhares...
    Que belo poema você faz!
    Agradeço-lhe!

    Beijos,

    Iremar

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