RETORNANDO A ÍTACA
Cicero Melo
A nave singra os sonhos nus do mármore,
Cruzando a solidão e sempre célere.
Carrega cuidadosa o nauta célebre,
E aquele transformado em pétrea árvore.
Um lutou, desdobrou a rota bárbara
Dos dias que da vida exigem têmpera;
O outro, tecendo de ondas sua têmpora,
Transmudou-se de mundos, sempre máscara.
O primeiro se fez, de acasos, íntegro;
O segundo buscou, em rumos trôpegos,
Desvendar o inefável do seu íntimo.
Mas, ambos se perderam: mar adúltero.
Hoje, mudo, acompanho, olhos sôfregos,
Ulisses retornando ao mátrio útero.
PENÉLOPE
Cicero Melo
Ancoro em teus segredos, cidadelas.
De desvelos me nutres, me aquartelas
Desnudado do nauta e de procura.
Eternamente desejada e pura,
Em ti repouso rotas, amaino velas.
Dos perigos dos mares me encastelas
Em tuas celas de amor e de ternura.
Maravilhas que, meiga, me compensas
Depois de navegar, aventureiro,
Ocasos aleatórios, vagas densas,
Retorno sempre ao cais do amor primeiro,
Para recomeçar, feridas pensas,
Outras navegações, sempre janeiro.
De "O VERBO SITIADO"
(Edições Bagaço, 1986)
belos versos de amor e de aventura...o intenso desejo de viver e a necessidade de voltar ao remanso do colo amado.
ResponderExcluirUm abraço
Poeta Guaraciaba, captastes bem o que emoldura a saga do navegante-guerreiro, nas procelas da volta!
ResponderExcluir"Retorno sempre ao cais do amor primeiro,
ResponderExcluirPara recomeçar, feridas pensas,
Outras navegações, sempre janeiro."