afluente & afluentes*
Ronaldo de Andrade
Cientes calmarias e alagoas
a que porto me destinais?
Causais escândalos no meu peito inflado
de mangues e verde azul.
No entrave das orgias e urubus
negra vocação de mistério e nuvens
é concha calcária este meu corpo ilha.
Foi em jangadas que resolveu dormir
as mundaús
que em mundaú eu vim
filha de afluente – Canhoto
tenho a tiborna do sangue peixe.
Tremendo choro o soluço augusto
- de morte inconsciente usina
- de vida a beleza finda
é nada o nadando ir-se.
(*Do livro "Sombras de Mata e Flecha" -
Coleção Viventes das Alagoas - 1991).
O Gogó-da-Ema
Rosalvo Acioli Júnior*
Ó Gogó-da-Ema dos coqueiros,
o desnaturado – misteriosa e átima
dissimetria que assombra
o vasto coração dos ares.
Em seu ardoroso fetiche vegetal,
ó desnaturado, oprimes as criaturas
(imperador dos pesadelos do estendal),
fluindo transfigurado, dissoluto,
na lúcida memória dos mares.
Ó Gogó-da-Ema, dos coqueiros o desnaturado.
Eterno totem luminoso da Pajuçara.
(*Do livro "Maceió" - Editora Senha - 1987)
Marítimo
Nilton Resende*
O solitário repousa à pedra
o seu corpo de âncora e algas.
Sentindo os dedos das ondas diz
baixo: te peço: me afaga.
Diz baixo e é como se dissessem
a pele, os ossos, a alma.
Já perto vêm uns errantes,
envoltos em capas, em cotas.
O homem levanta um dos braços,
e todo, inteiro, invoca:
meu Deus, salvai-me, cobri-me,
deixa-me liberto da horda.
A tropa, ó talho e gume!,
começa o escárnio, a não dança.
Toma de facas, de maças,
golpeia o que a fúria alcança.
O homem se estende, sorvido,
Tritão destituído da lança.
A ira, agora contida,
contente de seu linguajar,
sorri vendo o homem, seu peso,
que o impede de se levantar.
Também a dele leveza,
levada ao jugo do mar.
(*Do livro "A Poesia das Alagoas" - Edições Bagaço,
organizado por Edilma Bomfim e Carlito Lima – 2007)
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Olá Iremar
ResponderExcluirPassando para um abraço e leituras ^^
Tenha uma boa semana querido
Abraços.
Olá, Sél
ResponderExcluirAgradeço por sua preciosa atenção.
Beijos
Comentar poesia é difícil, né?
ResponderExcluirSó descubro quando tento, hehehe.
Obrigado pelo blog.
Pra mim, é sempre um presente ler os poemas selecionados aqui. =)
Um abraço.
André, sua visita e seu comentário são muito importantes. Fico contente por proporcionar, neste Bestiário, o presente da poesia.
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