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14 de outubro de 2009

Melhores poemas que eu li

E assim em Nínive

Ezra Pound

“Sim, sou um poeta e sobre a minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

“Vê! Não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou um poeta e sobre a minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

“Não é, Raana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho.”


Poética

Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público
com livro de ponto expediente protocolo
e manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára
e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula
ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

2 comentários:

  1. Iremar,


    Grato por acompanhar o meu blog!


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

    P.s: também farei o mesmo com o seu e lerei tudo atentamente!

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  2. Oi Idemar,
    Pound é genial. Vim a conhecer o trabalho dele recentemente, ao ler artigos do Haroldo de Campos. Este poema não conhecia, muito bom gosto o seu de colocá-lo aqui!!
    Alias, todo o blog é de bom gosto, parabéns!
    Bandeira despensa comentários, né?!
    Abraços!

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