Cidade Atlântica
Iremar Marinho
Uma vazante tardia
alaga a Cidade Atlântica.
Seres anfíbios, acossados,
povoam os bancos de areia.
Maré de caranguejos tortos
(o peso da lama e salsugem)
emerge Brejal adentro.
Os maceioenses,
com a vida torta
dos goiamuns,
entram e saem dos becos, das tocas,
aos encontrões nas ruas tortas.
Entre o mar – a sua cruz –
e as lagoas – a espada
de Dâmocles da tiborna –
Maceió se espreme,
vaporosa e alagadiça.
No embate de mar e água doce,
só os caranguejos sobrevivem,
chafurdando na areia traiçoeira.
A terra prometida –
uma ilha no mapa da restinga –
é dos seres anfíbios afinal.
A redenção é dos caranguejos.
Tapagem do Alagadiço
Iremar Marinho
Maceió tem o seu mapa
traçado num berço de águas.
Entre o mar e a lagoa,
flutua a terra movediça.
Seu povo (seres anfíbios)
afunda e emerge
(afoga-se e revive)
A Cidade Atlântica
é porto de sereias
que aplacam a ira do mar
com orgasmos de sargaços.
Poema a um cão
Iremar Marinho
Ladra o cão na noite,
guardando a entrada
do inferno-horror.
A noite penetra
os cantos escuros
(seus encantos-muros).
O cão irreflexo
(o corpo inflexo)
morde a cauda em círculo.
A noite cai sobre o cão
(os gestos alertas
e negra penugem).
Com o cão na pálpebra,
não espero o dia
de pálida aurora.
Sonho madrugadas
e manhãs perdidas
(encardidos sonhos).
Na noite ferida,
ladra o cão vazio,
rosna vão vadio.
Vaga o cão sem-noite.
Na rua sem-dia,
tomba sob açoites.
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Iremar,
ResponderExcluirmuito bom!
Abração,
Adriano Nunes.
Adriano,
ResponderExcluirAgradeço por sua apreciação. Seus gostos literários são semelhantes aos meus. Só tem fera! rs
Abraços
Iremar, todos os poemas estão excelentes. Creio que você, atualmente, é o maior poeta genuinamente alagoano (vivo) na literatura brasileira. É meu orgulho citá-lo aos "estrangeiros".
ResponderExcluirA propósito dos alagoanos estrangeiros, você tem alguma coisa de Ângelo Monteiro (de Penedo)? Para mim o maior poeta vivo da língua portuguesa? Caso não tenha, mande-me novamente o seu endereço, para lhe enviar algumas obras dele. E também da Revista Cultura.
Orgulho-me de ser seu irmão.
Danou-se, descobri uma foto de uma festa na casa da Aída, em que todos estávamos lá, eu, tu, Carlos Pimentel, João Batista... Vou escanear e te mandar uma cópia.
Éramos todos jovens e tão tolos...
Irmão Poeta Cícero Melo, digo que o afeto do amigo contribui para sua crítica e seu orgulho acerca desde modesto escrevinhador. Um dia eu chego lá.
ResponderExcluirQuanto ao "estrangeiro" Ângelo Monteiro, conheço-o, mesmo que esparsamente, como autor de um grande obra, em todos os sentidos. É tradutor do Tigre de Blake, que acabou se tornando o próprio (O Tigre). A propósito, Ângelo Monteiro existe mesmo?!
Manda logo essa foto de quando éramos tolinhos!
Meu endereço para você mandar coisas do Ângelo Monteiro: Condomínio Vale da Serraria, Q-A, 35, Serraria, Maceió - AL
Meu caro Iremar Marinho, parabéns pelo excelente blog. Encontrei nele primorosas jóias da poesia alagoana, sobretudo as do meu saudoso amigo Francisco Valois e do notável Jorge de Lima. Prometo visitar seu blog com frequência. Ele está ótimo, fazendo jus à sua inteligência. Um grande abraço. Arlene Miranda.
ResponderExcluirQuerida Arlene,
ResponderExcluirSou grato por suas preciosa visita e generosa apreciação sobre o nosso Bestiário.
Abraços para você.
Iremar Marinho
Olá Iremar,
ResponderExcluirFoi bom receber sua visita e melhor ainda bater a sua porta e encontrar a beleza da boa poesia estampada em sua página.
Li algumas, parei mais tempo em: "MEUS POEMAS" e fiquei encantada com sua sensibilidade.
Um abraço,
Dalinha Catunda
Olá, Dalinha,
ResponderExcluirMesmo tardiamente,agradeço
sua honrosa visita e seu generoso
comentário sobre o Bestiário e meus poemas.
Estou sempre lhe visitando!