Cícero Melo
(1952 União dos Palmares/Alagoas)
Acidentalmente juntos,
as bombas criam digitais
nas retinas.
Logo mais abaixo,
há rios
e navios voltando do inferno.
CICATRIZ NA VIDRAÇA
Cicero Melo
A luz esconde o dom de ser eterno.
Demônios,
o que se traça sob a farsa,
se quando choves,
é algo assim como uma máscara?
A NONA SERPENTE
Cicero Melo
Isto é a muda dos deuses.
É preciso acender-lhes carnes
e cabelos de harpas.
Dos homens são alheios.
Dos seus banquetes cospem
cães de estrelas.
É lamentável a morte.
Se os dias que procriam
fossem mais longos e doces...
PRIGIONE ÂNTICA
Cicero Melo
Última reimpressão do deus original,
onde todos os amores jazem inacabados.
Apenas um olhar, o último olhar,
antes que se transformem em sal.
EM TODA NOITE MATAMOS
Cicero Melo
Em toda noite matamos
a morte, a antiga irmã;
o antigo pai revelado
nas linhas duplas das unhas;
o antigo suor da mãe,
despojado nos retratos.
Em toda noite matamos
as lembranças e os cavalos.
Fonte:
Poemas da Escuridão
Edições Bagaço
Recife 2001