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30 de outubro de 2020
10 de abril de 2020
Calvário nas ruas de Maceió
Iremar Marinho
Para que matar o Cristo,
todos os anos, nas ruas
de Maceió, como em Gólgota?
Não bastou a imolação?
todos os anos, nas ruas
de Maceió, como em Gólgota?
Não bastou a imolação?
Cada esquina, uma estação.
Velhas crentes, moços gaios
acompanham ao Calvário
o Cristo sem Cireneu.
Velhas crentes, moços gaios
acompanham ao Calvário
o Cristo sem Cireneu.
A Rua do Sol é nova
Via Sacra: a turba quer
o Cristo crucificar,
sem dó nem apelação,
Via Sacra: a turba quer
o Cristo crucificar,
sem dó nem apelação,
no Largo do Livramento
(diante do Bar do Chopp).
Mas o Senhor jaz (é morto!)
entre rubros paramentos.
(diante do Bar do Chopp).
Mas o Senhor jaz (é morto!)
entre rubros paramentos.
(Poema do livro "Flores de Cana", que será publicado depois da Pandemia)
5 de fevereiro de 2020
Flores de cana
Iremar Marinho
Flores de cana
alastram
o solo ácido de sangue
dos mortos do latifúndio.
O sol forte é testemunha
dos canaviais-partidos
(o doce terror dos campos).
O Mundaú chora mágoas
de gente amarga habitante
do doce-mar sem limites.
O sangue de demerara
pulsa veia diabética
de álcool e mel cabaú.
Sabe da veia o açúcar,
do sangue sabe o veneno.
Sabe do clima este sol.
Os afluentes jorrando,
a cana se alastrando
(o doce por ironia).
A água morre de química,
no Mundaú, vau de lágrimas
dos ilhéus/vidas cortadas.
Os cemitérios, às margens,
dos mortos de chistosoma,
de bala e colesterol.
Por este rio escorre
o desespero dos mortos
partidos como os canais.
Os afogados conspiram
nas angras, dunas e mangues
(os enforcados, às margens).
O rio torto costura
a mortalha desses náufragos
das tibornas, das caldeiras.
o solo ácido de sangue
dos mortos do latifúndio.
O sol forte é testemunha
dos canaviais-partidos
(o doce terror dos campos).
O Mundaú chora mágoas
de gente amarga habitante
do doce-mar sem limites.
O sangue de demerara
pulsa veia diabética
de álcool e mel cabaú.
Sabe da veia o açúcar,
do sangue sabe o veneno.
Sabe do clima este sol.
Os afluentes jorrando,
a cana se alastrando
(o doce por ironia).
A água morre de química,
no Mundaú, vau de lágrimas
dos ilhéus/vidas cortadas.
Os cemitérios, às margens,
dos mortos de chistosoma,
de bala e colesterol.
Por este rio escorre
o desespero dos mortos
partidos como os canais.
Os afogados conspiram
nas angras, dunas e mangues
(os enforcados, às margens).
O rio torto costura
a mortalha desses náufragos
das tibornas, das caldeiras.
A lagoa,
estuário
de mortes (vidas negadas):
cenário de funeral.
de mortes (vidas negadas):
cenário de funeral.
A barra do
mar-represa
é tumba desses ilhéus
do Vale da Flor de Cana.
é tumba desses ilhéus
do Vale da Flor de Cana.
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